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Essas novelas maravilhosas e suas trilhas sonoras matadoras – Vale Tudo (1988)

29/06/2011

Considerada um marco na televisão brasileira, esta obra do mestre Gilberto Braga é inesquecível. Com todas as tramas paralelas bem relacionadas e sua atmosfera suburbana – característica do autor – Vale Tudo ficou marcada, entre outras coisas, por ter sido a primeira novela em que o vilão (Marco Aurélio, muito bem interpretado pelo Reginaldo Faria, diga-se de passagem) se dá bem no final. Quem aqui não lembra dele fugindo impunemente com milhões de dólares na maleta e fazendo sinal de “banana” pro país?

Acho que é daí que vem o grande mérito de Vale Tudo: o fato de ter sido uma das poucas novelas que conseguiram trazer para a telinha a discussão sobre honestidade sem cair no politicamente correto. Do contrário, Marco Aurélio seria preso ou ficaria louco (este tem sido o fim preferido dos autores recentes para seus vilões), mas jamais fugiria numa boa e debochando. Outro fato que fez a novela ser assunto em rodas de discussão foi a resposta à pergunta “Quem matou Odete Roitmann?”. O suspense, descobri hoje, durou apenas 13 dias, mas na minha memória foi muito mais.

A trama principal de Vale Tudo girava em torno de Maria de Fátima, moça ambiciosa do interior, que vende a casa que mora com a mãe sem que ela saiba, e vai tentar a vida no Rio de Janeiro sozinha. Por outro lado, a mãe, humilde e gentil, que ganha a vida de forma honesta, fica rica de repente com a venda de sanduíches na praia, que vem a formar a empresa Paladar. Sobre isso, uma curiosidade: na época em que fazia minha monografia, eu pesquisei muito sobre as novelas enquanto produto da cultura brasileira, e uma das coisas que descobri é que em Cuba eles são loucos por novelas. E foi por causa delas que eles incorporaram o termo Paladar no vocabulário cubano. Para eles, Paladar é o nome que dão aos restaurantes particulares, que não pertecem ao governo. Existem regras para que não seja considerado restaurante, mas, em geral, parece que lá é muito comum as pessoas abrirem as portas de suas casas  para servir refeições a turistas e, com isso, complementar renda.

Mas, voltando… Maria de Fátima era vivida pela Gloria Pires, que ganhou minha antipatia na infância de tão má que era. Mas ela não brilhava sozinha, porque o elenco todo era bom. Vou te contar, não se fazem mais elencos como aquele! Até Lídia Brondi fez parte, formando um par romântico muito fofo (e sofrido) com Cassio Gabus Mendes.

E, sem querer me estender muito, vou dizer que é impossível falar de Vale Tudo sem parecer muito muito rasa, pois em um texto simples assim não vou conseguir dar a Heleninha Roitmann (Renata Sorrah) o número de linhas que ela merece. Aliás, essa é uma personagem marcante, que deve estar entre as top 10 das novelas brasileiras. Ainda hoje o nome Heleninha serve de alcunha para mocinhas que bebem além da conta. Ou não é?

A trilha sonora nacional começa com a clássica Brasil, da Gal Costa, tema de abertura da novela (que ganhou aquela versão literal pelo gênio Leo Prestes) e que marcou época. É um disco de grandes medalhões, como Maria Bethânia cantando Tá Combinado e João Bosco com Terra Dourada. Como não escondo minha preferência pelo pop rock, destaco Pense e Dance, do Barão Vermelho, com uma batida dançante e guitarra forte no refão. Outro destaque do lado A é A Sombra da Partida, do Ritchie, com sua voz de QUERUBIM (ns).

O lado B começa com É, do Gonzaguinha, que é o complemento da música da Gal que abre o lado A. Indignação com pandeiro ao fundo. A próxima faixa é do mestre Nico Rezende, Penso Nisso Amanhã. Ele é o rei das melodias fatais, que dom tem esse cara. A clássica Isto Aqui é o Que é, na voz do Caetano Veloso, também foi um ponto alto da trilha. E encerro a minha lista de destaques com Cazuza e a balada Faz Parte do Meu Show, uma das melhores letras dele.

A trilha internacional chega rasgando com Father Figure, do George Michael, esse clássico do álbum Faith. Hit obrigatório em qualquer coleção. A sequência com Where Do Broken Hearts Go, da Whitney Houston, também não ajuda muito o coração a se recuperar. Belinda Carlisle, no auge da carreira, vem com I Get Weak, uma balada muito oitentista (leia-se: perfeita). A música que fecha o lado A dispensa apresentações: Baby Can I Hold You, da Tracy Chapman. A voz dessa mulher é algo impressionante, impossível não amar.

A escolha para abrir o lado B foi muito feliz: Silent Morning, do Noel. Um dance com aquele sintetizador safado que só uma trilha sonora de 1988 poderia trazer. Esse lado é bem mais fraco que o anterior, por isso fecho ressaltando Paradise, da Sade, com aquele groove sensual que ela sempre fez muito bem.