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Essas novelas maravilhosas e suas trilhas sonoras matadoras – Que Rei Sou Eu? (1989)

12/09/2011

Ainda hoje, apesar das novas mídias e da chegada de novas gerações, as novelas continuam sendo um importante produto de exportação da cultura brasileira e uma forma de entretenimento da população em geral. Continua sendo o programa mais assistido na nossa TV, ainda que venha, aos poucos, perdendo seu público. Eu mesma me encaixo neste grupo. Passei de assídua e viciada a telespectadora esporádica.

E, enquanto me preparava para escrever sobre Que Rei Sou Eu?, me dei conta de que, naquela época, embora eu fosse criança e sem tantos compromissos, a novela era muito presente na minha vida e de todos lá em casa. E, a partir daí, comecei a me perguntar até quando as tramas televisivas vão fazer parte da nossa rotina e vão ocupar espaços tão importantes na telinha e o que teria feito o gênero perder parte do seu fiel público. Claro que toda e qualquer coisa que eu escrever aqui não vai, de fato, responder às questões, mas tenho a impressão de que são tantos anos contando histórias que chega um momento em que fica difícil fazer diferente. Isso somado ao politicamente correto e à patrulha dos bons costumes, que afasta da TV tudo que foge ao padrão e à fórmula de sucesso. E, por isso, nos faz tão saudosistas de novelas passadas. Talvez, Vale Tudo ou Roque Santeiro, por exemplo, não seriam tão boas se fossem exibidas hoje, mas foram marcantes porque inovaram no seu tempo. E, pra nós, são parte da memória afetiva.

Assim como Que Rei Sou Eu?, que foi extraordinária. A novela não foi ao ar em caráter experimental, ela fez sucesso porque tinha qualidade, era pitoresca e cheia de humor inteligente, a ponto de conseguir trazer para o horário das sete uma trama de época. Era o Brasil rindo dele mesmo, em uma época em que caminhávamos para a primeira eleição direta para a Presidência da República no período pós-ditadura. Os governantes eram corruptos, autoritários, o povo vivia na miséria, e o país enfrentava a instabilidade financeira e sucessivos planos econômicos. Qualquer semelhança não era mera coincidência com o Brasil (dos planos Cruzado, Cruzado Novo, Cruzado II, Cruzeiro, etc) da época, certo?

A história de Que Rei Sou Eu? se passava em Avilan, um imaginário país europeu em 1786, três anos antes da Revolução Francesa. O enredo inicia a partir da morte do rei Petrus II (Gianfrancesco Guarnieri), que não deixa sucessores legítimos, apenas um filho bastardo, Jean-Pierre (Edson Celulari). Na ausência de um herdeiro, os conselheiros reais, que exercem forte influência nas decisões da rainha Valentine (Tereza Rachel), resolvem entregar a coroa ao mendigo Pichot (Tato Gabus Mendes). A armação é obra de Ravengar (Antônio Abujamra), o bruxo do condado e um dos melhores personagens já criados para a televisão até hoje. Revoltado com a coroação de Pichot, Jean-Pierre se prepara para derrubar os poderosos vilões de Avilan.

A descrição acima, tirada daqui, resume bem a trama da novela. Mas os méritos estão todos nos detalhes: o texto inteligente, a retratação cômica do Brasil naquele período e a riqueza dos personagens. Cassiano Gabus Mendes conseguiu fazer uma paródia perfeita. Transportar figurões da política do país para a monarquia anárquica da ficção, de forma leve, mas sei deixar a crítica de lado.

Na minha galeria de melhores novelas, Que Rei Sou Eu? está entre as Top 5. Me arriscaria dizer que ocupa o primeiro lugar, mas, confesso, fica difícil elencar quando os posts deste blog começam a entrar na “Era de Ouro” das telenovelas, os chamados anos 90.

Uma trilha que tem Chama, do Roupa Nova, só pode ser excelente. Léo Jaime com Medieval 2 também ajuda a manter o nível lá em cima. Mas é no lado B que o bicho pega, com Bye Bye Tristeza da Sandra de Sá abrilhantando tudo. A faixa seguinte merece menção só pelo nome: As Muralhas do Teu Quarto São Bem Altas, Mas Eu Posso Te Alcançar. O autor? Wando, claro.

A sequência com Finge Que Não Falou, do Nico Rezende, é garantia de música boa. E o fechamento com Que Rei Sou Eu?, do Eduardo Dusek, traz lembranças de uma das maiores novelas já escritas. E olha que ainda nem cheguei na trilha internacional.

Guilia Gam na capa já é sinal de sucesso. Abrir o disco com Eternal Flame, das Bangles, então, é atestado de maestria. E seguir com How Can I Go On?, dueto de Freddie Mercury e Montserrat Caballé dispensa comentários. A inclusão de Bamboleo, dos Gypsy Kings, reforça o bom gosto na escolha das músicas. A balada I Will Always Love You, da Talyor Dayne, só faz lembrar como era boa a época das MÚSICAS LENTAS.

E é isso que mais aparece no lado B, aberto com Specially For You, da Kylie Minogue e Jason Donovan. O Noel (aquele de Silent Morning) vem com a faixa Like a Child, naquele synthpop maroto. E a festa encerra com a perfeita Patience, do Guns N’ Roses, deixando aquele gostinho de quero mais. Parabéns aos envolvidos na escolha das músicas.

Essas novelas maravilhosas e suas trilhas sonoras matadoras – Bebê a Bordo (1988/1989)

23/08/2011

 

 

 

Depois de falar aqui da memorável Heleninha, bêbada e louca por um mambo, chegou a vez de outra. E não, não é novela do Manoel Carlos. Bebê a Bordo, aliás, não tem nada em comum com o autor das novelas que se passam no Leblon. A Heleninha da vez é um bebê, filha de mãe solteira que veio ao mundo enquanto a mãe fugia da polícia, pelas (peludas) mãos de Tony Ramos, o tímido Tonico.

A novela é de Carlos Lombardi, típica do estilo dele, embora com menos homens sem camisa desfilando de pijamas sem cuecas do que o habitual, é verdade. Mas taí o Tonico, o mocinho paspalhão, que não nega a origem. E, apesar do estilo das sete, se quiser ir a fundo dá até para levar a sério. Bebê a Bordo tinha um apelo forte sobre relações entre pais e filhos. A personagem central, Ana (Isabela Garcia), foi abandonada quando criança pela mãe Laura (Dina Sfat, em seu último trabalho na TV) e, como mãe solteira de Heleninha, também abandonou a criança, que tinha uma lista de pretendentes a pai. Dois dos possíveis candidatos, os irmãos Rico e Rei (interpretados pelos Guilhermes Leme e Fontes quando ainda serviam para colírios), também tinham sido deixados para trás pelo pai e nunca nem falaram a respeito da mãe. Enquanto isso, outros personagens tinham mães presentes ou permissivas demais.

De resto, me lembro muito pouco da novela, mas reconheço que ela foi importante para a minha compreensão de realidade x fantasia. Afinal, até uma criança de 8 anos sabe que essa coisa de Ninguém Segura este Bebê que Heleninha vivia era só na ficção. E sei, podia falar do Leo Jaime ator, mas vou deixar a responsa com o EGS, que é mil vezes mais talentoso do que eu.

Uma trilha sonora que começa com Mordida de Amor do Yahoo só pode ser interessante. Como todos sabem, essa versão é superior à original do Def Leppard e marcou a vida de todo mundo que viveu os anos 80. A sequência com Adoro, do Léo Jaime, garante a cota de participações dele em trilhas de novelas.

O grande Dalto contribui com Quase Não Dá pra Ser Feliz e a Marina com Preciso Dizer que Te Amo. Do lado B, destaque para a Joanna com Amor Bandido e o Emílio Santhiago com a clássica Ronda. A trilha nacional até que não é das melhores, pois a proporção de baladas para músicas de dançantes não é equilibrado, o que considero um pecado. Mas tem o seu valor.

A trilha internacional é claramente superior, começando com I Don’t Wanna Go On With You Like That, do Elton John, na melhor fase da sua carreira. Mal o cara se recupera e já vem Housemartins com Build, a famigerada MELÔ DO PAPEL. Maior do que toda a carreira posterior do Fat Boy Slim, que nessa época fazia baladas fatais. 1,2,3 da Gloria Estefan & Miami Sound Machine traz um clima latino pro disco, que tem várias baladas definitivas.

Tanto é verdade que o lado B começa com I Don’t Want To Live Without You, do Foreigner, canção tão conhecida de quem ouve Antena 1 (maior rádio). Mas se engana quem acha que esse é o auge do álbum. Ainda há duas pérolas antes do bolachão terminar: Strangelove, do Depeche Mode, e Never Tear Us Apart, do INXS. Convenhamos que, com petardos assim, não dá vontade de parar de ouvir a trilha.